Então, como disse no post anterior, encontrar as guerreiras para encarar o desafio de com pouco tempo e muita, muita pouca grana e muito, muito, muito trabalho foi difícil, na verdade eu tinha essas duas criaturinhas em mente (Ana Lúcia e Jackeline), o que faltava era convencer.
Primeiro faltava afinidade, a Ana e Jack eram amigas de muito tempo e sempre sentavam juntas na sala de aula lá na frente, eu sentava no fundão. Assim como eu, Ana e Jack eram super dedicadas, mas a gente nunca tinha feito trabalhos acadêmicos juntas, conversávamos amenidades, mas não sei o porquê cismei que queria fazer esse TCC com elas.
Quando finalmente me enchi de coragem pra falar com elas, a Jack me tirou as esperanças, disse que queria fazer a monografia dela sozinha e a Ana estava perdida, não sabia o que fazer, a única certeza que ela tinha era que queria fazer algo grande, que marcasse a vida dela. Infelizmente não consegui convencê-las, estava desanimada em encontrar gente pra somar e já estava apelando em fazer monografia sozinha e deixar o anteprojeto experimental embaixo do tapete da frustração.
Todos sabiam que eu queria fazer algo sobre o Rio Grande, havia pensado em um documentário, mas a faculdade não permitia que determinadas modalidades fossem feitas por uma só pessoa, com exceção da monografia que deveria ser feita sozinha. Daí meu coordenador de curso, o César, veio conversar comigo pra eu não desistir do projeto, então pedi pra ele conseguir um jeito da faculdade liberar pra eu fazer o projeto sozinha. Nada feito! Ele me perguntou quem poderia fazer comigo e que ainda não estava inserido em outra equipe ou monografia, falei que havia pensado em Jack e Ana, mas elas não toparam, pronto, do corredor mesmo ele gritou as meninas que passavam para um dos laboratórios onde teríamos aula e intimou as meninas a abraçarem a ideia inicial do projeto, desafiou mesmo, quase morro de vergonha.
As meninas não responderam nada no momento, ficaram de pensar e eu envergonhada parecendo um menininho que não deixam jogar bola e o tio vai lá e força a barra, mas César sabe o quanto eu sou grata pela interferência dele e na semana seguinte as meninas me procuraram dizendo que pensaram na proposta e de livre e espontânea pressão, toparam.
Muitas reuniões e discussões entre nós três e a sábia orientação de Marden, mudamos a modalidade de documentário para um livro-reportagem.
Ui! Quando me lembro disso, sinto o mesmo frio na barriga. E assim iniciamos os trabalhos, não conseguíamos dividir tarefas, pois a gente queria fazer tudo juntas, estar em todas as entrevistas, ir a todas as viagens (nem sempre uma ou outra conseguia ser liberada no emprego). Na hora de sentar e escrever foi difícil, dividimos por capítulos e cada uma escolheu sobre o quê queria escrever, daí uma lia o que a outra escreveu, corrigia, mudava e tudo isso sem uma briga qualquer, muito pelo contrário, era super divertido e na hora que encontrávamos um erro ou uma doideira de uma das autoras era o momento de rir e tirar sarro.
As viagens eram os melhores momentos, dividir banheiro, apartamento, a comida foi o momento de nos conhecermos melhor. Praticamente fomos adotadas pela família da outra, pois todo final de semana ou eu ia para São Desidério e me hospedava na casa de uma delas, ou elas vinham para minha casa.
Nunca rolou briga, o desespero pegava uma por vez que ligava pra outra tarde da noite chorando com medo de não concluir a tempo e do outro lado da linha sempre uma das três, por mais que estivesse também apavorada, fingia que estava tranquila e que ia dar tudo certo no final e deu.
As orientações acadêmicas aconteciam uma vez por semana na faculdade com dois professores: Hebert e Cícero. Eram momentos tensos, desafiadores, onde eu pensava onde eu fui que amarrei minha égua, eles nos exigiam por demais e a gente numa semana batia boca e na semana seguinte a santa paz reinava. Na noite da defesa foi maravilhoso, apesar do nervosismo em apresentar para uma plateia tão especial: nossos pais, colegas de sala, amigos, namorados, professores e ex-professores, até o diretor da mantenedora estava presente. Foi mágico aquele momento, eu não ouvia nem os aplausos, foram tantos abraços. Após a defesa, na hora da arguição, apenas nós três cara a cara com os avaliadores: Marden, César e Hebert, os três de cabeça baixa me dava aflição de não conseguir ver os olhos deles, até que Marden respirou fundo e falou, falou e falou muitas palavras de carinho, elogios, algumas correções, mas Marden é sempre Marden, o equilíbrio em pessoa, simplesmente um gênio. Hebert falou menos, mas de maneira profunda e nós só podíamos lhe agradecer por tamanha paciência durante as orientações. César fechou o momento se debulhando em lágrimas, coisa mais linda, ele que é tão agitado, um furacão em pessoa, se sentiu tocado pela história dos remeiros.
E nós três, as Meninas do Rio, como Marden costumava nos chamar, fazer o quê naquele momento? Restou apenas chorar de emoção, agradecer a Deus pela experiência vivida e planejar um dia lançar o livro para que o público conheça um pouco mais da história do Oeste baiano e a importância desse rio maravilhoso e tão esquecido pelas autoridades.
Ao sair da sala de arguição, tentando limpar as lágrimas teimosas, lá estava nosso ex-professor e amigo de todas as horas, Carlos Araújo que veio de Recife especialmente para assistir nossa defesa, além de todas as pessoas queridas, que alguns minutos antes assistiram nossa apresentação, ainda nos aguardavam para mais uma série de abraços e aí foi só alegria, hora de ir para pizzaria bebercomermorar.
Minha mão tocando a nascente do Grande
Ana e Eu em Goiabeira (Wanderley)
Jack, Carlos Araújo, Lu e Aninha momentos antes da defesa
Nossa banca: César, Hebert e Marden
Convidados, olha mainha de rosa a 2ª da esquerda p/ direita, pai de amarelo o 4º