Torna-se homem sem nem ao menos ter sido criança. Da infância escarrerando no pó do terreiro de casa, à vida adulta entre espinhos e galhos secos do campo atrás do boi que teima em se embrenhar mais e mais na mata seca. É um forte, esperto, resignado e prático. Cedo esta pronto para a luta.
Suas vestes são uma armadura. Envolto no gibão de couro curtido, calçando as perneiras também de couro das pernas até a virilha, o indispensável chapéu, as luvas também de couro e botina.
Raça forte e antiga. Nunca desiste da batalha. Correndo atrás do boi não há pedra, coivara, espinho ou barranca de rio que lhe impede alcançar o garrote desgarrado, porque por onde passa o boi passa o vaqueiro com o seu cavalo. Vaqueiro e cavalo não são mais duas criaturas distintas, tornam-se um único ser, seguem o boi até os confins, ao se aproximar do boi, o vaqueiro deita-se de lado da sela com uma mão se segura nos arreios e com a outra agarra o garrote pela cauda, derruba-o no chão e a poeira sobe. Pula do lombo do cavalo, seu cúmplice, e com uma corda peia o animal, coloca o chocalho e encerra a fuga.
É um veterinário formado na lida diária, aprendeu com o avô ou com o pai. Se a bicheira faz vítima entre o rebanho, sabe o que é mais eficaz que o mercúrio: a reza. Nem se quer precisa de ver o animal doente. Reza na direção em que o animal se encontra. Cura-o pelo rastro.
A hora do descanso é embalada em rede, contando aos colegas de ofício e aos pequenos as peripécias da vaquejada, comendo uma saborosa paçoca de carne seca acompanhada de largos tragos de cachaça. Corpo cansado, mas espírito tranquilo por mais um dia de intensa batalha vencida e amanhã é outro longo dia sob o sol imperdoável.
Baseado em fatos reais (sou neta e filha de vaqueiro) e na obra Os Sertões de Euclides da Cunha.
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