Além das brincadeiras de infância, uma das coisas que me marcou profundamente foi o carinho da família que morava do lado da minha casa, a família de Nólia. A mãe dela, dona Nita e o marido, seu Nelson eram de um afeto e cuidado comigo como se eu fosse filha caçula deles. Dona Nita fazia comidinha gostosa pra mim, arrancou meu dentinho de leite, seu Nelson gostava de assisti o Chaves comigo. Os filhos deles eram como meus irmãos também, os mais velhos: Alonso e Duca faziam minhas vontades, comprando balas e doces pra mim e me defendendo dos cachorros deles o Dick e a Miúca (morria de medo do Dick), já a Preta gostava de me enfeitar feito boneca, acho que ela achava que eu era mesmo uma boneca e sempre me chamava pra ouvir músicas do A-ha. O Nai era o mais novo dos homens, era um chato, implicava comigo, me fazia chorar quando dizia que ia se casar comigo e Nólia era a caçula deles e minha irmãzona.
Nólia estudava numa escola perto da minha, daí ela se ofereceu para minha mãe de me trazer todos os dias após as aulas e minha mãe adorou, recentemente ela me contou que sempre olhava minha lancheira e via que eu não comia quase nada do meu lanche, então ela morrendo de fome se aproveitava disso e devorava meu lanche. Minha mãe percebeu, já que eu não comia, alguém estava comendo meu lanche, conhecendo bem Nólia ela sacou quem estava se aproveitando da desmilinguida dela e aí passou a dobrar a quantidade de lanche pra filhinha dela não morrer de inanição. Eu vivia mais na casa dos meus vizinhos do que na minha casa, quando eu não estava na escola ou brincando na rua, estava na casa de dona Nita, minha mãe às vezes brigava comigo, dizia que eles iam enjoar de mim, aí dona Nita reclamava minha mãe “Oxe! Deixa meu bicinho, Zilda”.
Quando essa família voltou pra terra deles, Itabuna-BA, foi o dia mais triste da rua, não teve esse adulto ou criança que não chorasse, confesso que adoeci, chorei muito, tive febre e tudo. Eles animavam a rua, seu Nelson adorava comemorar o São João, fazia uma fogueira enorme, dona Nita preparava as comidinhas e licores típicos, fazia até os vestidos de quadrilha, eram três dias de festa, que só acabavam quando seu Nelson embebedava e queria brigar com alguém, ele fazia a festa e ele mesmo encerrava. Outra festa maravilhosa era o Reveillon, na verdade comemorava-se o aniversário de seu Nelson, dia 1º de janeiro, daí ele dizia que era o dono do mundo, pois nasceu no primeiro dia do ano, era uma baita de uma festa e terminava do mesmo jeito das outras, com seu Nelson bêbado e valente. Dona Nita era uma mulher séria, muito respeitada, cuidava de todos, sempre que alguém adoecia ela levava para a casa dela pra ela cuidar, seja criança ou adulto. Os rapazes eram ótimos meninos, mas Alonso puxou a valentia do pai, vivia se metendo em encrencas. Era um intercâmbio nas duas casas, eu e meus irmãos vivíamos na casa de dona Nita e seu Nelson e os filhos deles também viviam lá em casa, quem não conhecia direito confundia achando que os filhos de seu Nelson eram filhos de meu pai e vice-versa.
Sempre que posso vou à Itabuna rever minha família postiça ou eles vêm para Barreiras e se hospedam em minha casa. Pena que estão todos morando em cidades diferentes, Alonso mora com a família dele em Aracaju, Duca e Nai em Vitória da Conquista (Nai se tornou pastor evangélico, para o orgulho da minha mãe), não nos casamos como ele vivia me ameaçando, mas Nai tem uma família linda, Preta e família mora em Itabuna ao lado de seu Nelson e dona Nita e Nólia foi pra muito longe, mora na Suécia, mas estamos sempre em contato e esse ano ela veio nos visitar em julho, foi uma farra.
São amizades de quando eu era muito criança (deveria ter uns quatro anos de idade) e que cresceram e se consolidaram e vai ser assim sempre, pois o que une nossas famílias é o mais sublime dos sentimentos, o amor.
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