Acho que sou descendente de seu Lunga

seu Lunga

Seu Lunga (Joaquim dos Santos Rodrigues) nasceu em 18 de agosto de 1927 no Ceará. É o cabra mais ignorante do mundo. Meu pai, Quim das Porteiras, parece ser filho dele, pois tem resposta na ponta da língua e eu já estou aprendendo. A fama de seu Lunga se espalha devido a histórias como essas:

*Seu Lunga estava na cama ao lado da mulher quando ela começou a gemer. "Qué que tá gemendo muié... não vê que tô tentando dormir"? E ela: Lunga... tá me dando um troço... Pois receba, ele disse. E ela: Mais é um troço ruim! Então devooolva, muié!

*Mais uma para o rol. Seu Lunga estava em sua loja de ferragens quando lhe aparece um cliente, e pergunta: "quanto custa esse parafuso?" Seu Lunga: "Esse daí é 50 centavos". "Nossa, que caro", retruca o cliente. Seu Lunga arranca o parafuso da mão do homem, atira dentro de um barril cheio de ferragens, chacoalha o barril e diz: "Pois se achar, é de graça, fi' d'uma égua".

*Outra atribuída a seu Lunga: Ele estava batendo um prego numa viga de madeira, sobre um mezanino, quando o prego desliza e cai no chão. Arretado da vida, ele joga toda a caixa de prego no chão. - Se é pra descer daqui, só se for para pegar todos.

*Uma nova situação pitoresca atribuída ao ilustre passador de pito: Seu Lunga estava na estrada com Zé, ainda uma criança, quando este pediu: “Papai, dirija que nem Fitti”. O pai não entendeu: “Que Fitti?” O filho explicou: “Fittipaldi”. Quando chegaram em casa, Lunga disse: “Meu filho, chame Quiti”. “Que Quiti, pai?” “Sua mãe, a puta Quiti pariu.”

*Certa vez ouvi essa do Seu Lunga: Ao Chegar ao banco para receber um cheque ouviu do caixa: Vai levar a importância em dinheiro? Seu Lunga responde: Não quero em dinheiro não, quero em clips e borrachinhas seu filho duma egua manca!

*Um dia, num restaurante de sua cidade, Seu Lunga tomava sua sopa tranquilamente, quando apareceu um conhecido e perguntou se ele estava tomando sopa, eis que Seu Lunga retruca: - Não! Estou tomando banho! E derrama o prato de sopa sobre sua cabeça!

*Certa vez Lunga teve o pneu do carro furado no meio da estrada e não tinha macaco. Ao perguntar a um passante onde era a borracharia mais próxima, o sujeito respondeu que era bem ali, mas ele não fosse lá, pois o borracheiro era muito bruto. Lunga ignorou o conselhou e foi lá. Ao bater na porta do borracheiro, este logo gritou: - Quem é?! Lunga, laconicamente, respondeu: - Soca a porra desse macaco no cú, fi d'uma égua!

*Um viajante para à beira da pista e pergunta a um senhor sentado em a frente de uma casa à beira da estrada: Senhor, essa pista vai pra São Paulo? No que ouve, em seguida como resposta: Se vai eu não sei, mas se for vai fazer uma falta retada...

*Lunga estava tirando goteiras, defeitos das telhas de sua casa, um curioso passou e perguntou: Tá tirando as goteiras seu Lunga? Ele responde: Tô não, tô é fazendo - e ai saiu feito louco a quebrar as telhas.

*Uma certa vez dando uma surra em um dos seus filhos, quando ainda pequeno o menino gritava: Tá bom pai, tá bom pai, pelo amor de Deus, tá bom!!!!! Lunga responde: Tá bom é? Pois quando tiver ruim diga que eu paro.

*No seu comércio de sucata, ele também vende outros produtos dependendo da ocasião. Uma vez tinha uma saca de arroz e um romeiro perguntou: Seu Lunga como tá o arroz? Ele respondeu: Tá cru!

*Seu lunga foi pegar um ônibus. E quando o motorista pede sua carteira de identidade. Vendo sua carteira de identidade, o motorista diz: -essa carteira não é sua! seu lunga responde: -e esse ônibus é seu?

*Um conhecido de Lunga pergunta: - E ae Seu Lunga, como anda? Seu Lunga responde sem olhar pra pessoa: - Com as pernas não aprendi a voar ainda.

*Seu Lunga andava com sua bota com par de esporas. Quando um amigo seu pergunta - e esse par de esporar? Seu Lunga responde: - pra caçar rato! O rapaz pergunta, como? Seu Lunga diz: - primeiro você põe um queijo no c... e quando o rato vier, você chuta de calcanhar o rato com as esporas.

*A Pescaria: Seu Lunga sai de casa com a vara de pescar e um cestinho em direção à lagoa quando seu vizinho passa e fala: - Indo pescar Seu Lunga? E seu Lunga responde: - Não tô indo jogar porrinha (quebrando em palitinhos a vara de pescar).

*Estava na hora do jantar então seu Lunga falou pra empregada: - Maria traga o leite. Ai ela trouxe o leite. Então seu Lunga disse : - Maria traga o cuscuz. Aí ela trouxe o cuscuz. Então seu Lunga despejou um pouco de leite no cuscuz aí o cuscuz chupou o leite aí seu Lunga olhou desconfiado e colocou mais leite no cuscuz então o cuscuz chupou o leite de novo então seu Lunga já arretado pegou o prato com o cuscuz, jogou no rio e disse: - Chupa isso ai agora seu misera!

*Seu Lunga no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta: Sobe? Seu Lunga: - Não, esse elevador anda de lado.

*Seu Lunga fumando um cigarro. A pergunta: Ora, ora! Mas você gosta de fumar? - Não, apagando o cigarro na língua diz, gosto de me queimar.

*Seu Lunga, quando jovem, se apresentou à marinha para a entrevista: Você sabe nadar? Pergunta o oficial. -Sei não senhor. Responde seu Lunga. -Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à marinha? -Quer dizer que se eu fosse pra aeronáutica, tinha que saber voar!!

*Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta: Ta doente, seu Lunga? - Quer dizer que seu fosse saindo do cemitério eu tava morto!!!

*Entra um sujeito na sucata de Seu Lunga, escolhe um relógio um pouco velho e pergunta: - Seu Lunga, esse relógio presta pra tomar banho? - Eu prefiro um sabonete – Responde Seu Lunga.

*O filho do seu Lunga jogava futebol em um clube local, e um dia seu Lunga foi assistir a um jogo de seu filho no estádio, e o sujeito sentado ao lado pergunta: - Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho. Seu Lunga aponta e diz: - É aquele ali... - Aquele qual? - Aquele ali!!!! - Não tô vendo... Então Seu Lunga "P" da vida pega uma pedra, joga em cima de seu filho e diz: - É aquele alí que começou a chorar!!!

*Seu Lunga entrando em uma loja: - Tem veneno pra rato? - Tem! Vai levar? - Pergunta o balconista. - Não, vou trazer os ratos pra comer aqui!!! - responde seu Lunga.

*Seu Lunga resolve andar um pouco e sai com seu chapéu grande e antigo. Durante sua caminhada ele resolve coçar a cabeça sem tirar o chapéu, então uma conhecida dele pergunta: -Oxe seu Lunga, num tira o chapéu pra coçar o cabelo não é? Seu Lunga então responde: - E a senhorita tira a calcinha pra coçar o tabaco?

*O seu Lunga consegue um emprego de motorista de ônibus. No primeiro dia de trabalho, já no final do dia, ele para o ônibus em um ponto. E uma mulher pergunta: - Motorista, esse ônibus vai para a praia? E o Seu Lunga responde: - Se você conseguir um biquini que dê nele...

*O Seu Lunga estava em casa e resolveu tomar um café: - Mulher! Traz um café! - É pra trazer na xícara? - Não! Joga no chão e traz com o rodo!

*Uma senhora foi comprar uns ovos que seu Lunga vendia na frente do ferro-velho. Ela começa a balançar os ovos para ver se estão bons. Ele vê do balcão e fala para ela: "D. Lourdes a senhora não quer ovo, não! O que balança e faz barulho está aqui dentro, os chocalhos estão aqui à direita". Se levanta e tira os ovos que ela já tinha escolhido da sacola e lhe dá dois chocalhos.

*Sentaram à mesa de um restaurante, seu Lunga, esposa, filhas e familiares. Logo veio o garçom anotou os pedidos e perguntou se o refrigerante era tamanho família, e ouviu de bate-pronto, "não, nada de família não. Não tá vendo que comigo só tem puta!!!

*Essa não é lenda: a prefeitura ia fazer a calçada da rua onde Lunga mora, no Crato, e pediu pra ele tirar seu carro da garagem. Ele ficou enfezado com o pedido e deixou o carro lá. Resultado: tem uma Brasília que ele não consegue tirar da garagem porque o portão ficou fechado de vez devido à altura da calçada... Passou no "Me Leva Brasil", do Fantástico.

*Na visita ao seu ferro velho, perguntaram ao Seu Lunga quanto custava um ventilador e Lunga responde dizendo que custava R$ 10. O cliente falou que havia encontrado mais barato em outro ferro velho. Lá vem seu Lunga: " Pois ande mais um pouco que mais ali adiante já estão dando é de graça!

*Essa é boa também. Seu Lunga chegou no bar disse "Menino, me dê uma cerveja e bote aí o disco do Luiz Gonzaga" o dono do bar responde "a cerveja tá aqui, seu Lunga, mas o disco eu não vou tocar, porque o meu sogro foi enterrado ontem", seu Lunga "e ele levou o disco?

*Seu Lunga estava sentado no ônibus e ao seu lado havia um lugar vazio, uma pessoa chegou e perguntou: "Tem alguém sentado aqui?" E ele respondeu: Se tem, eu não tô vendo."

*Seu Lunga levou um tombo e um amigo tentando ajudar pergunta "Seu Lunga, o senhor quer água?" e ele responde "eu levei uma queda, eu não comi doce".

*Seu Lunga tava deitado na cama, sem se mexer. E um amigo idiota perguntou, a lhe bater: - O senhor está dormindo? Lunga disse: tô fingindo e treinando pra morrer!

*O funcionário do banco veio avisar: - Seu Lunga, a promissória venceu. - Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória.

“Existem três coisas que não se fazem pela metade nessa vida: sexo, favor e faxina”. Falou a sabedoria em pessoa.

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Carinho de mãe

mãe

Além de ter brincado muito na infância, ter vivido algumas aventuras com meu pai, outra coisa marcante da época de criança era o cuidado que minha mãe tinha comigo. Ela tinha especial cuidado e paciência era com minha alimentação, eu era chata pra comer, muito magrinha, minha mãe catou todos os pediatras de Barreiras tentando encontrar um jeito de me fazer com que eu me alimentasse melhor e engordar, nada funcionou. Mas aprendi a comer de tudo mesmo não gostando de beterraba, couve, fígado, espinafre essas coisas saudáveis, mas que na época tinha gosto muito ruim. Hoje não existe alimento que eu não coma, inclusive jiló.

Acredito que por ser a caçula e magricela, minha mãe me protegia sempre dos meus irmãos, principalmente de Ró, mais velho que eu três anos, um chato. Ele me atentava muito, tinha vergonha de dizer para os colegas dele que eu era irmã dele, machista que só ele. Ele enchia tanto minha paciência que acabava a gente brigando feio, de rolar pelo chão, aí minha mãe apartava a briga e batia sempre primeiro nele e me deixava por último, era minha chance de correr e fugir da surra.

Já adulta, minha mãe confidenciou que fazia isso de propósito mesmo, pois eu era tão miudinha que ela tinha medo de bater e a mãe dela fazia assim também, pois minha mãe era a caçula e muito dengosa como eu. Não resolvia muita coisa, pois quando meu irmão me achava de jeito descontava a surra em mim, mas aí ele apanhava novamente de mainha.

Quando eu estudava no turno matutino, eu dava muito trabalho pra acordar, sempre fui muito dorminhoca, mas minha mãe nunca perdia a paciência. Lembro perfeitamente de minha mãe entrar no quarto cantando essa música:

Acorda Luciana que o galo já cantou.

Há muito e muito tempo o sol se levantou.

Acorda, acorda!

Que o galo já cantou.

Quiquiri quiquri quiquiri quiri!

Quiquiri quiquri quiquiri quiri!

Esses cuidados minha mãe tem até hoje comigo, se perco a hora ela não canta, mas me acorda com delicadeza, somos amigas e confidentes, super companheiras.

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Miniatura de vaqueira

menina no cavalo

Já contei aqui no blog que sou filha de ex-vaqueiro né, pois então, meu pai passou a ser fiscal de fazendas e assim podia passar mais tempo em casa, porém quando precisava ele ia campear, vacinar e ferrar gado. Quando marcava essas atividades no final de semana, ele sempre me levava junto no jipe amarelo da Sertaneja.

Já nas fazendas ele costumava me levar na garupa do cavalo dele ou selava um animal bem mansinho para mim, e lá ia eu com meu pai e os vaqueiros, eu brincando de vaqueira. Se fosse preciso dormir na fazenda, pra mim isso era o melhor da brincadeira, pois logo cedo entre 4 e 5h meu pai me acordava pra ir para o curral, ele tirava leite da vaca e servia uma caneca de sambaia para mim (não sei como se chama em outras regiões, mas sambaia é aquela espuma quentinha quando se ordenha a vaca), esse gosto marcou muito minha infância, até hoje adoro tomar sambaia.

Quando meu pai e os vaqueiros iam campear longe ou em terrenos muito acidentados, geralmente eu ficava na sede da fazenda com a esposa e os filhos do vaqueiro, aí as galinhas viravam os bois, e dá-lhe tentativas de laçar as galinhas, ao contrário de meu pai e para a sorte das galinhas, eu era péssima no laço.

Nem sempre eu podia acompanhar meu pai nessas andanças, mas ele sempre se lembrava de trazer uma recordação do Cerrado para mim, como a florzinha do Pau-jaú que eu jogava para o alto e ela descia girando como uma hélice de helicóptero, frutas como a mangaba, araçá, puçá, araticum, menos o pequi, pois pai odeia o cheiro do pequi e também trazia manga, goiaba e caju que o pessoal da fazenda mandava para nós.

Acredito que foi devido esse contato com a natureza desde criança que me fez uma apaixonada pelo meio ambiente, pelos rios, pelos bichos, apesar de morrer de medo de bicho, meu pai foi responsável por moldar esse respeito e amor à natureza.

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Criança sabe ser vingativa

Quando criança eu apanhei muito de uma prima, a Rayane, ela é dois anos mais nova do que eu, mas pense numa criança insuportável, ela era aquele furacão, gritava muito, muito pirracenta e violenta, quando ela ia à casa de alguém, a dona da casa tinha medo, pois sabia que ela iria aprontar. Eu era uma criança boazinha, meiga, tímida, mas às vezes aprontava também, porém nem se compara as traquinagens da minha prima.

Nos finais de semana Rayane dormia em minha casa ou eu ia dormir na casa dela pra brincar, confesso que nunca gostei de dormir na casa dela, pois lá ela era muito pior, ela me batia e eu não podia revidar, pois tinha medo do meu tio Chiquinho ou da esposa dele, Amélia, ficarem com raiva de mim, então eu só apanhava e chorava, quando meu tio via as agressões castigava logo a monstrinha dele e brigava comigo por não revidar, afinal apesar de eu ser mais velha, nós éramos praticamente do mesmo tamanho e se brincar eu era mais magra que ela. A mãe dela também não dava moleza pra ela não, tentava de tudo pra domesticar aquela fera, mas Rayane não tinha jeito.

Certo dia na casa de meu tio, eu e Rayane estávamos sentadas no chão da cozinha brincando de casinha, quando Rayane se levantou e me mordeu no ombro, sem nenhum motivo ou talvez ela estivesse com fome neh, aí a bobona aqui foi chorar, meu tio viu a cena e repreendeu a filha e depois ele brigou comigo pra eu deixar de ser mole e bater em Rayane pra ela ter medo de mim, com as seguintes palavras: “Deixa de ser mole Lu, mete o pau na Rayane. Se continuar assim ela não vai te respeitar nunca e uma hora dessas ninguém vai esta por perto pra te socorrer”.

Sempre fui muito obediente e nesse dia coloquei um fim na carreira de psicopata da minha priminha. No cantinho da cozinha ficava um pilão, desses pequenininhos, Rayane puxou meu cabelo, engoli o choro, fui até o canto da cozinha e peguei a mão-de-pilão e bati em Rayane, quase matei a menina, a sorte que meu tio correu e não deixou eu dar a segunda e talvez a cacetada final. Tomou minha arma, meu passaporte para a liberdade, disse que eu não poderia fazer aquilo e eu pela primeira vez respondi alguém mais velho e falei pra ele que foi ele quem mandou em meter o pau nela, aí meu tio não teve mais argumentos e Rayane nunca mais na vida tentou me agredir. Aprendeu a me respeitar na marra.

pilão

Apesar do acontecido, nós nunca mais brigamos, continuamos uma dormindo na casa da outra para brincar até tarde, viramos cúmplices em muitas traquinagens, mas nada de violência, Hoje Rayane não lembra nem de longe aquela peste que ela foi um dia, é uma mulher calma, serena. Mas ela contesta quando eu digo que sempre fui boazinha. Não fui muito atentada, mas Rayane diz que eu era sonsa, enfim sou contra qualquer tipo de violência, mas nesse caso só resolvi meus problemas na porrada e Rayane me respeita até hoje e morremos de rir dessa história, o dia da minha vingança.

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Família postiça

familia

Além das brincadeiras de infância, uma das coisas que me marcou profundamente foi o carinho da família que morava do lado da minha casa, a família de Nólia. A mãe dela, dona Nita e o marido, seu Nelson eram de um afeto e cuidado comigo como se eu fosse filha caçula deles. Dona Nita fazia comidinha gostosa pra mim, arrancou meu dentinho de leite, seu Nelson gostava de assisti o Chaves comigo. Os filhos deles eram como meus irmãos também, os mais velhos: Alonso e Duca faziam minhas vontades, comprando balas e doces pra mim e me defendendo dos cachorros deles o Dick e a Miúca (morria de medo do Dick), já a Preta gostava de me enfeitar feito boneca, acho que ela achava que eu era mesmo uma boneca e sempre me chamava pra ouvir músicas do A-ha. O Nai era o mais novo dos homens, era um chato, implicava comigo, me fazia chorar quando dizia que ia se casar comigo e Nólia era a caçula deles e minha irmãzona.

Nólia estudava numa escola perto da minha, daí ela se ofereceu para minha mãe de me trazer todos os dias após as aulas e minha mãe adorou, recentemente ela me contou que sempre olhava minha lancheira e via que eu não comia quase nada do meu lanche, então ela morrendo de fome se aproveitava disso e devorava meu lanche. Minha mãe percebeu, já que eu não comia, alguém estava comendo meu lanche, conhecendo bem Nólia ela sacou quem estava se aproveitando da desmilinguida dela e aí passou a dobrar a quantidade de lanche pra filhinha dela não morrer de inanição. Eu vivia mais na casa dos meus vizinhos do que na minha casa, quando eu não estava na escola ou brincando na rua, estava na casa de dona Nita, minha mãe às vezes brigava comigo, dizia que eles iam enjoar de mim, aí dona Nita reclamava minha mãe “Oxe! Deixa meu bicinho, Zilda”.

Quando essa família voltou pra terra deles, Itabuna-BA, foi o dia mais triste da rua, não teve esse adulto ou criança que não chorasse, confesso que adoeci, chorei muito, tive febre e tudo. Eles animavam a rua, seu Nelson adorava comemorar o São João, fazia uma fogueira enorme, dona Nita preparava as comidinhas e licores típicos, fazia até os vestidos de quadrilha, eram três dias de festa, que só acabavam quando seu Nelson embebedava e queria brigar com alguém, ele fazia a festa e ele mesmo encerrava. Outra festa maravilhosa era o Reveillon, na verdade comemorava-se o aniversário de seu Nelson, dia 1º de janeiro, daí ele dizia que era o dono do mundo, pois nasceu no primeiro dia do ano, era uma baita de uma festa e terminava do mesmo jeito das outras, com seu Nelson bêbado e valente. Dona Nita era uma mulher séria, muito respeitada, cuidava de todos, sempre que alguém adoecia ela levava para a casa dela pra ela cuidar, seja criança ou adulto. Os rapazes eram ótimos meninos, mas Alonso puxou a valentia do pai, vivia se metendo em encrencas. Era um intercâmbio nas duas casas, eu e meus irmãos vivíamos na casa de dona Nita e seu Nelson e os filhos deles também viviam lá em casa, quem não conhecia direito confundia achando que os filhos de seu Nelson eram filhos de meu pai e vice-versa.

Sempre que posso vou à Itabuna rever minha família postiça ou eles vêm para Barreiras e se hospedam em minha casa. Pena que estão todos morando em cidades diferentes, Alonso mora com a família dele em Aracaju, Duca e Nai em Vitória da Conquista (Nai se tornou pastor evangélico, para o orgulho da minha mãe), não nos casamos como ele vivia me ameaçando, mas Nai tem uma família linda, Preta e família mora em Itabuna ao lado de seu Nelson e dona Nita e Nólia foi pra muito longe, mora na Suécia, mas estamos sempre em contato e esse ano ela veio nos visitar em julho, foi uma farra.

São amizades de quando eu era muito criança (deveria ter uns quatro anos de idade) e que cresceram e se consolidaram e vai ser assim sempre, pois o que une nossas famílias é o mais sublime dos sentimentos, o amor.

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Amizade, lealdade e muita saudade

Na minha rua tinha dois grupos, o grupo das “meninas grandes”: Nólia, Doinha, Margá, Pizinha, Pingo, Nenenca e Joza. E o grupo das “meninas pequenas”: eu, Amanda, Hogla, Rosa e Neidinha. Ah, tinha o “café-com-leite”: Leandra e Nina. A divisão dos grupos era por idade e a diferença entre o grupo das “meninas grandes” e o das “meninas pequenas” era de uns cinco anos mais ou menos.

Muitas vezes os grupos brincavam juntos, mas as mais velhas já estavam se assanhando pra começar a namorar e isso para nós mais novas era uma grande besteira, como pode deixar de brincar pra ficar se agarrando com os meninos idiotas, pra gente todo menino era idiota. Porém sempre que podíamos estávamos juntas, mas era complicado conciliar já que a Margá é minha irmã, Pingo é prima de Amanda e Hogla, Doinha é irmã de Rosa e Joza e Nenenca são irmãs da Neidinha, a única de boa com todo mundo era Nólia que não tinha conflito com nenhuma, das meninas maiores o meu maior xodó era e é até hoje e vai ser sempre é a Nólia. Ela cuidava de mim, me ensinava os melhores esconderijos e quando saia com minha irmã Margá e eu queria ir, minha irmã não deixava, mas Nólia não resistia meu dengo e se eu estivesse de cabelo assanhado (isso era muito comum) ela arrumava rapidinho, nem que seja amarrando com canudo de refrigerante ou o que encontrasse no chão, mas ela me levava com ela.

Da minha turminha “as meninas pequenas” eu era muito ligada a Amanda, achava que era por sermos do mesmo signo sei lá, só sei que tínhamos muito em comum, gostávamos das mesmas coisas, a gente era bem cúmplice, se Amanda estivesse de castigo (geralmente Hogla aprontava e Amanda pagava) eu era solidária a ela, eu não ia brincar, ficava de castigo junto com ela ou se eu não pudesse brincar, Amanda também não brincava.

Amanda e Hogla são irmãs, Amanda é mais velha, elas moravam em São Paulo e todos os anos vinham passar as férias em Barreiras na casa da avó, dona Lia. Essas férias muitas e muitas vezes viraram temporadas de um ano e elas acabavam ficando pra estudar, o que eu e Amanda achávamos ótimo, pois assim a gente podia brincar todos os dias. Muitas vezes briguei com Hogla para defender Amanda, que apesar de ser mais velha era mole, só sabia chorar, nada de agressão física, mas bem que eu tinha vontade de dar um pau em Hogla, detalhe elas duas sempre foram as mais altas da turma, não é atoa que quando adolescente Amanda se tornou modelo, muito linda, alta, magra com pele alvinha, cabelos claros, já a Hogla era também alta, mas era mais gordinha, era branquinha, mas de cabelos bem pretos e tinha péssima dicção, a voz rouca e chamava coca-cola de toca-tola, dida colada de dida-tolada e quando chorava fazia um escândalo e assim sempre era vítima e a Amanda, coitada era sempre culpada de tudo.

Eu e Amanda vivíamos grudadas, sempre no mesmo time das brincadeiras, quando isso não acontecia sabotávamos o próprio time só pra uma não ganhar da outra, dessa forma era mais fácil deixar a gente na mesma equipe. Quando fiz 12 anos, menstruei, isso pra mim foi quase a morte, significava que eu não era mais criança, que eu não poderia mais brincar na rua, pois as outras meninas ainda não tinham menstruado, assim eu escondi de todo mundo, menos de Amanda. Um dia Hogla me flagrou lavando uma calcinha suja de menstruação e contou para as outras meninas, só que pra elas serviu apenas de curiosidade pra saber se doía, como era e tal, e continuamos brincando normalmente. Não durou muito e todas menstruaram no mesmo ano, só Amanda que demorou muito pra menstruar lá para depois dos 16 anos. As meninas à medida que iam ficando mocinhas, não queriam mais escarrerar na rua, estavam mais interessadas nos garotos, menos eu e Amanda óbvio, a gente queria esticar a infância até onde desse, então passamos a brincar de casinha escondidas na minha casa, geralmente no quarto de minha mãe, brincamos até os 16 anos. A gente já se interessava pelos garotos também, mas era aquela coisa platônica, não queríamos beijar, agarrar ninguém, era só pra dizer que a gente gostava de alguém. Uma época, eu e Amanda nos apaixonamos por dois rapazes que trabalhavam numa firma perto das nossas casas (minha casa e de Amanda eram de frente uma para a outra), o paquerinha da Amanda usava o cabelo bem curtinho, daí botamos o apelido de Careca, já o meu era ruivo aí colocamos o apelido dele de cabelo de fogo. Os caras perceberam nosso interesse por eles, mas nunca se aproximaram, eles já eram homens e nós éramos duas meninas de 13 ou 14 anos que brincavam na rua de boleada, andavam sujas de tanto correr e subir em árvores, mas eles sempre davam uma olhadinha pra nós e aí já era suficiente pra turma dizer que estávamos namorando.

Voltando mais atrás ainda, quando Amanda e eu estávamos com uns 11 anos, um menino chamado Luisinho se apaixonou por Amanda, realmente ela era a mais bonita da turma. Ele tinha a nossa idade, só que baixinho, ou melhor, ele tinha estatura normal, Amanda que sempre foi gigante. Daí, ele era de outra rua e um dia chegou com a turminha dele de garotos na nossa rua, ele vestido todo de branco, calça e camisa social, parecia um pai de santo e pediu Amanda em namoro, ela não queria de jeito nenhum, mas tanto que a prima Pingo insistiu que ela aceitou, mas era um namoro sem beijo na boca (todas nós achávamos beijo na boca muito nojento), não tinha abraço nem nada, era só pra pegar na mão e conversar. Os amigos dele se vestiam como qualquer garoto naquela idade, só Luisinho que todo dia vestia aquela roupa branca, a gente dizia que era a roupa de ver Amanda.

O tal namoro não durou nem uma semana, pois os amigos dele se juntavam com a gente pra brincar (escondido de meu pai que não deixava a gente brincar com meninos), aí ficava Amanda doida pra brincar e tinha que ficar segurando a mão da miniatura de médico muito bem penteado, até que um dia ela não resistiu e o chamou para brincar, aí ele disse que não podia sujar a roupa, ela largou ele sentado na cadeira e foi brincar conosco, foi o fim do namoro e assim partiu o coração do Luisinho que voltou na nossa rua na noite seguinte, vestido como um menino normal pra terminar o romance.

Para nós as “meninas pequenas” foi um alívio, só assim a gente podia brincar em paz sem precisar tomar tanto cuidado com bola ou qualquer coisa que pudesse sujar a roupa branca do rapazinho.

Atualmente Amanda mora em Salvador, é mãe de uma menina linda, a Camila. Luisinho não sei por onde anda, Hogla continua em São Paulo, também é mãe de uma menina, a Sara, Rosa e Neidinha continuam em Barreiras, as duas também são mães. Visitei Amanda algumas vezes em Salvador, daí perdemos o contato faz uns três anos e agora ela me encontrou no Facebook e o carinho entre nós continua o mesmo, sempre recordando os tempos de meninice quando éramos as melhores amigas e nada nos fazia ter medo, a não ser as broncas de meu pai ou de seu Zé Norato (avô de Amanda).

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Seboseira na infância

cabana

Estamos na semana do Dia da Criança, daí fiquei recordando como foi minha infância e quero compartilhar aqui no bloguinho, pois dizer que foi uma boa infância é pouco. Sempre morei na mesma casa, na mesma rua, no mesmo bairro. Minha rua não era asfaltada e não tinha nem de longe o fluxo de carros como existe hoje, havia muito espaço para correr, saltar, esconder.

Eu adorava brincar de bandeirinha, pega-pega (que chamávamos de dida e pegou-ficou era dida colada), esconde-esconde, casinha, nadar no rio escondida dos meus pais, andar de bicicleta no parque de exposição, subir em árvores pra comer frutas no pé, construir cabanas de palha no quintal de casa, brincar com os bichos. Muitas vezes nem precisávamos ir longe pra aprontar, meu quintal era enorme, então ali mesmo a gente aprontava todas.

Final de semana era sagrado ir à Zorzo tomar sorvete, de noite lanchar no trailer do Gilmar, ou ir na praça da biblioteca brincar no parquinho. Ah, e os desfiles que Nólia inventava muito engraçado, tinha também os grupos de dança, também invenção dela. Nólia foi a pessoa mais criativa que conheci, não deixava ninguém parado, sempre chamava a galera pra agitar, uma época tentou colocar todo mundo em forma, aí combinávamos de acordar às 6h pra ir malhar no parque de exposição, isso durou pouco tempo, acordar cedo não era bem o que gostávamos de fazer. Mas foi divertido enquanto durou.

Certa vez Nólia teve a ideia de construirmos uma casa na árvore, pensamos em fazer na mangueira do meu quintal, minha mãe descobriu e não deixou, então o jeito foi construir no chão mesmo, daí fomos buscar palhas de coco na exposição, construímos o barraco com dois cômodos, fizemos comidinha ruim com gosto de fumaça e um suco de morango desses artificiais de pacotinho, o mais vagabundo que existe, enquanto brincávamos do lado de fora da barraca, Pedrinho (que tem síndrome de Down) só vivia sujinho, as unhas pareciam unhas de peba, catarrento tomou nosso suco e da maneira mais nojenta, enfiando a mão dentro da garra e colocando na boca, quando a gente viu a cena foi aquela gritaria, todo mundo com nojo, não me lembro quem disse algo do alto da sabedoria que a gente podia beber o suco, pois a sujeira fica só no fundo e a gente, claro, bebeu. Eca!!!

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Dia de festa

bolo

Hoje é aniversário do meu amado pai, Quim das Porteiras e da minha amiga querida e parceira na autoria do livro ‘Um rio de histórias’, Jackeline Bispo. Nunca acreditei em horóscopo ou coisas do tipo e a prova maior são essas duas pessoas que nasceram no mesmo dia e são regidos pelo mesmo signo de Libra e são completamente opostas.

Meu pai é engraçadíssimo, tem um raciocínio rápido pra dar respostas engraçadas, sai com tiradas bem humoradas, a Jack só sabe rir, ri que chora, literalmente.

Pai é explosivo, uma besteirinha o tira do sério, costumo dizer que prefiro uma surra dele do quê um pito, a Jack já atingiu o Nirvana há muito tempo, nunca vi uma pessoa tão equilibrada como ela, pode cair o mundo, estourar a III Guerra Mundial que ela estará lá plácida, serena. Em outra pessoa pode até irritar ser alguém assim, mas a Jack não irrita ninguém, faz tudo parecer suave, lembro-me de quando estávamos as três, eu, Jack e Ana escrevendo o livro com prazo estourando pra entregar, enquanto eu e Aninha nos descabelávamos, tínhamos insônia, a Jack conseguia tirar sua sonequinha após o almoço sem nenhuma culpa.

Mas uma coisa eles dois têm em comum, são amáveis, é impossível conhecê-los e não gostar de cara. São excelentes companheiros, leais, eternos.

Declaro aqui minha gratidão a Deus pela oportunidade de ser filha de Quim das Porteiras e ter amigos do naipe da Jack, à vocês minha homenagem de filha, amiga e fã. Saúde, sucesso e paz.

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